segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013


VALOR NUTRITIVO DOS PEIXES DA AMAZÔNIA

 

A diversidade biológica dos ecossistemas e dos peixes encontrados na Amazônia são ímpares em qualquer outra bacia hidrográfica do planeta. Somente em espécies characiformes (que possuem escama), a região detém cerca de 1200 espécies das 1500 existentes no mundo inteiro. Mas apenas 15 espécies locais fazem parte da alimentação do caboclo amazônico. Os peixes, contudo, não são importantes apenas por serem ricos para a dieta alimentar da região.

Eles possuem mecanismos evolutivos e adaptativos aos ambientes regionais pouco ainda explorados, inclusive por ajudar na recuperação de áreas degradadas por meio da dispersão de sementes, conforme informações repassadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) durante a conferência intitulada Peixes da Amazônia: uma mina de ouro biológica, realizada na 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Belém.

O poder alimentício dos peixes da Amazônia também é alto e merece destaque no estudo que neles mostram a presença de minerais como cálcio, ferro, zinco, sódio, potássio e selênio, que podem suprir as principais deficiências minerais das populações vulneráveis da Amazônia. O Amazonas é o Estado brasileiro onde há o maior consumo de pescado per capita do país. Segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura, o amazonense consome cerca de 35 quilos de peixe por ano, bem maior que a média nacional (7 a 8 quilos). Essa média de consumo destaca os amazonenses no estudo Caracterização Nutricional de Peixes da Amazônia, realizado pelo pesquisador do Inpa, Rogério de Jesus, que traçou o perfil nutricional das espécies através da sua composição química básica, minerais, ácidos graxos e aminoácidos.

A pesquisa mostra que a carne de diversos peixes da região possui elevados níveis de proteína, sais minerais e ácidos graxos para uma dieta saudável e balanceada, sendo o pacu, jaraqui, branquinha, curimatã, pirapitinga, aracu e mapará, como as espécies mais estudadas. Rogério de Jesus garante que todas as espécies são capazes de atender às recomendações diárias, mesmo para um adulto, acrescentado que a maioria dos peixes apresenta concentrações de proteína entre 18 e 20 gramas para cada 100 gramas de carne.

Segundo o pesquisador, os perfis de aminoácidos observados sugerem um alto valor biológico das proteínas nas espécies analisadas. “São proteínas nobres, de alto valor nutricional”, afirma. A concentração de lipídios (gordura) variou entre 1,4 e 3,1 gramas por 100 gramas de carne. O mapará foi a única espécie estudada que se diferenciou das demais, com concentrações de gordura mais altas (21g/100g) e menor valor protéico (11g/100g). Minerais prejudiciais, como mercúrio, arsênio e cromo, nele ocorreram em níveis bem abaixo do limite máximo recomendado para pescado.

Também foram observadas no estudo altas concentrações de ácido palmítico (19,8 a 31,8%), e ácido oléico ou ômega 9 (17,0 a 53,9%), fundamentais para o metabolismo humano, pois atuam na síntese de hormônios e na absorção de vitaminas.

O Inpa é parceiro da Embrapa e de diversas outras instituições no projeto Rede Aquabrasil - Bases Tecnológicas para o Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura no Brasil. A iniciativa, liderada pela pesquisadora Emiko Resende, da Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), pretende desenvolver tecnologias inovadoras para a promoção de um grande salto tecnológico capaz de promover a sustentabilidade da aquicultura brasileira, do ponto de vista econômico, social e ambiental.

Outra importante descoberta foi a ocorrência de ácidos linoléico e linolênico em concentrações similares às dos peixes marinhos brasileiros. O ácido linoléico foi estudado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) e apresenta efeitos importantes no metabolismo das gorduras do corpo. Já o ácido linolênico auxilia no sistema imune e reprodutivo e no metabolismo do colesterol, entre outras qualidades.

Baseado em constatações científicas, comer peixe é, portanto, saboroso e saudável, mas a grande variedade estrutural das formas de vida nos mais diversos níveis da região merecem cuidados especiais, tanto genético quanto populacional das espécies e dos ecossistemas da Amazônia que necessitam pesquisas. Entender os processos ecológicos e geológicos, os quais interagiram ao longo dos séculos e determinaram as qualidades específicas de cada espécie são responsabilidades que pesam ao Brasil, sobretudo aos amazônidas.

Os cientistas realçam que, antes da formação dos Andes, a Amazônia se comunicava com o oceano Pacífico, o que possibilitou que animais oriundos do oceano se adaptassem a ambientes de água doce, a exemplo da arraia. É possível que sejam descobertas mais espécies de peixes na Amazônia, porém com mais investimentos em fixação de recursos humanos e infraestrutura, pois a grande variedade e características entre as espécies se deve, em parte, pelo tamanho da Amazônia, que ocupa 60% do território nacional. Por outro lado, a formulação das políticas públicas para se determinar o tamanho das unidades de conservação merecem uma atenção especial da sociedade civil e do governo brasileiro.

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