VALOR NUTRITIVO DOS PEIXES DA AMAZÔNIA
A diversidade biológica dos
ecossistemas e dos peixes encontrados na Amazônia são ímpares em qualquer outra
bacia hidrográfica do planeta. Somente em espécies characiformes (que possuem
escama), a região detém cerca de 1200 espécies das 1500 existentes no mundo
inteiro. Mas apenas 15 espécies locais fazem parte da alimentação do caboclo
amazônico. Os peixes, contudo, não são importantes apenas por serem ricos para
a dieta alimentar da região.
Eles possuem mecanismos evolutivos
e adaptativos aos ambientes regionais pouco ainda explorados, inclusive por ajudar
na recuperação de áreas degradadas por meio da dispersão de sementes, conforme informações
repassadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) durante a
conferência intitulada Peixes da Amazônia: uma mina de ouro biológica,
realizada na 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência (SBPC), em Belém.
O poder alimentício dos peixes da
Amazônia também é alto e merece destaque no estudo que neles mostram a presença
de minerais como cálcio, ferro, zinco, sódio, potássio e selênio, que podem
suprir as principais deficiências minerais das populações vulneráveis da
Amazônia. O Amazonas é o Estado brasileiro onde há o maior consumo de pescado per capita do país. Segundo o Ministério da
Pesca e Aquicultura, o amazonense consome cerca de 35 quilos de peixe por ano, bem
maior que a média nacional (7 a
8 quilos). Essa média de consumo destaca os amazonenses no estudo Caracterização
Nutricional de Peixes da Amazônia, realizado pelo pesquisador do Inpa, Rogério
de Jesus, que traçou o perfil nutricional das espécies através da sua
composição química básica, minerais, ácidos graxos e aminoácidos.
A pesquisa mostra que a carne de
diversos peixes da região possui elevados níveis de proteína, sais minerais e
ácidos graxos para uma dieta saudável e balanceada, sendo o pacu, jaraqui,
branquinha, curimatã, pirapitinga, aracu e mapará, como as espécies mais
estudadas. Rogério de Jesus garante que todas as espécies são capazes de
atender às recomendações diárias, mesmo para um adulto, acrescentado que a
maioria dos peixes apresenta concentrações de proteína entre 18 e 20 gramas para cada 100 gramas de carne.
Segundo o pesquisador, os perfis
de aminoácidos observados sugerem um alto valor biológico das proteínas nas
espécies analisadas. “São proteínas nobres, de alto valor nutricional”, afirma.
A concentração de lipídios (gordura) variou entre 1,4 e 3,1 gramas por 100 gramas de carne. O
mapará foi a única espécie estudada que se diferenciou das demais, com
concentrações de gordura mais altas (21g/100g) e menor valor protéico
(11g/100g). Minerais prejudiciais, como mercúrio, arsênio e cromo, nele ocorreram
em níveis bem abaixo do limite máximo recomendado para pescado.
Também foram observadas no estudo altas concentrações de
ácido palmítico (19,8 a
31,8%), e ácido oléico ou ômega 9 (17,0 a 53,9%), fundamentais para o metabolismo
humano, pois atuam na síntese de hormônios e na absorção de vitaminas.
O Inpa é parceiro da Embrapa e de
diversas outras instituições no projeto Rede Aquabrasil - Bases Tecnológicas
para o Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura no Brasil. A iniciativa,
liderada pela pesquisadora Emiko Resende, da Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), pretende
desenvolver tecnologias inovadoras para a promoção de um grande salto
tecnológico capaz de promover a sustentabilidade da aquicultura brasileira, do
ponto de vista econômico, social e ambiental.
Outra importante descoberta foi a
ocorrência de ácidos linoléico e linolênico em concentrações similares às dos
peixes marinhos brasileiros. O ácido linoléico foi estudado pela Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) e apresenta efeitos
importantes no metabolismo das gorduras do corpo. Já o ácido linolênico auxilia
no sistema imune e reprodutivo e no metabolismo do colesterol, entre outras
qualidades.
Baseado em constatações científicas, comer peixe é,
portanto, saboroso e saudável, mas a grande variedade estrutural das formas de
vida nos mais diversos níveis da região merecem cuidados especiais, tanto
genético quanto populacional das espécies e dos ecossistemas da Amazônia que
necessitam pesquisas. Entender os processos ecológicos e geológicos, os quais
interagiram ao longo dos séculos e determinaram as qualidades específicas de
cada espécie são responsabilidades que pesam ao Brasil, sobretudo aos
amazônidas.
Os cientistas realçam que, antes
da formação dos Andes, a Amazônia se comunicava com o oceano Pacífico, o que
possibilitou que animais oriundos do oceano se adaptassem a ambientes de água
doce, a exemplo da arraia. É possível que sejam descobertas mais espécies de
peixes na Amazônia, porém com mais investimentos em fixação de recursos humanos
e infraestrutura, pois a grande variedade e características entre as espécies se
deve, em parte, pelo tamanho da Amazônia, que ocupa 60% do território nacional.
Por outro lado, a formulação das políticas públicas para se determinar o
tamanho das unidades de conservação merecem uma atenção especial da sociedade
civil e do governo brasileiro.
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