Búfalo, um animal rústico de
extrema versatilidade
A qualidade do leite e da carne
bubalina revela uma composição química superior, comparável ao da bovina, além
de possuir outras aptidões como precocidade, longevidade produtiva e
produtividade
O
búfalo foi considerado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação
(FAO) como o animal doméstico mais dócil do planeta, o que facilita sua criação,
manejo e melhor adaptação às mais variadas condições ambientais. Apesar disto, há
histórias da existência de búfalos selvagens na ilha de Marajó, capazes de
fazer correr o mais destemido vaqueiro e a abrigar-se nas árvores dos campos
marajoaras. São animais não domesticados, que vivem livres em pequenas manadas,
abandonados a própria sorte, até serem caçados a bala, a única forma de
domá-los.
Esse
animal rústico de extrema versatilidade pode produzir carne, leite, trabalho e se
reproduzir nas mais variadas condições climáticas do mundo, no frio da Europa
Oriental, na insolação dos desertos africanos, na umidade da Amazônia, na seca
dos sertões nordestinos e até nas escarpas montanhosas. Ele possui ainda elevada
produtividade em áreas de terra firme e até em criatórios com água somente para
beber, desde que disponham de sombras para regulação térmica, apesar de ser um
animal originário de áreas alagadas.
Além de
possuir tripla aptidão (carne, leite e trabalho), o búfalo também se
caracteriza por suas precocidade, longevidade produtiva e produtividade. Pesquisas
comparativas entre a carne bubalina e
bovina revelam vantagens da primeira, por conter pouca gordura intramuscular,
que possui 40% menos colesterol, 12 vezes menos gordura, 55% menos calorias,
11% mais proteína e 10% mais minerais, sendo mais favorável para a saúde
humana.
Outra
vantagem da carne de búfalo, em alguns casos, é a superioridade da composição
nutricional em relação a outras carnes convencionais – vermelha (bovina) e
branca (frango), sendo importante fonte de proteína animal de excepcional
qualidade, inclusive em seus derivados, como lingüiça, carne de sol,
babyburguer, mortadela com ervas finas, etc.
Por
outro lado, o leite da búfala revela uma composição química superior, comparável
ao da vaca bovina, em 43,81% nos sólidos totais, 43,60% em gordura, 17,10% em
extrato seco desengordurado, 41,54% de proteína (caseína), 2,4% de lactose,
15,30% de resíduo mineral fixo, 42,10% de cálcio e 42,86% de fósforo. Os
derivados produzidos são a mozarela, queijo tipo frescal, doce de leite,
requeijão, provolone, ricota, iogurte, queijo marajoara, dentre tantos outros
subprodutos.
A
qualidade do gado bubalino é também a sua capacidade de trabalho na Amazônia,
cujo elevado potencial ainda não atingiu a adoção e a importância social plenas,
devido a falta de tradição, a reduzida divulgação e por ser considerado um
sistema antiquado. A utilização do búfalo como animal de tração, com inovações
tecnológicas apropriadas aos pequenos agricultores é uma excelente alternativa
para elevar a produtividade sustentável das comunidades e podem ser
aproveitados para diferentes atividades agrícolas e de transporte no meio rural,
onde o animal pode ser usado para o preparo do solo, em aragem e gradagem, servindo
ainda para puxar carroças em diversas regiões do Brasil.
Na ilha
de Marajó, por exemplo, o búfalo é usado como montaria, inclusive pela polícia
local, além de ser tração de pequenas embarcações, transporte de madeira, etc. Na
região do Muju, também no Pará, o búfalo é utilizado para tracionar carretas,
no transporte de frutos de coco para a usina industrial.
Os búfalos
são animais da família dos bovídeos,
classificados na sub-família Bovidae,
gênero Bubalis, divididos em três
subespécies, Bubalus bubalis,
variedade bubalis, Bubalus bubalis, variedade kerebao e Bubalus bubalis, variedade fulvus. No Brasil, na variedade bubalis,
são criadas as raças Jafarabadi, Mediterrâneo e Murrah. Esses animais estão
dispersos na Índia, Paquistão, China, Turquia e nos continentes europeu e
americano.
Na variedade kerebao, a raça
Carabao é criada em nosso país e está distribuída na Malásia, Indonésia,
Filipinas, Tailândia. É, também, denominada de Rosilha na ilha de Marajó,
devido à sua pelagem, e é conhecida como búfalo de pântano (swamp buffalo).
A
variedade fulvus é nativa do nordeste da Índia, possui coloração parda ou
avermelhada e se assemelha com o tipo Baio encontrado em algumas regiões do
Brasil. O Bubalus bubalis também é conhecido como búfalo-do-rio, e o Bubalus bubalis var. kerebau, chamado búfalo-do-pântano. As espécies
bubalinas são diferentes do bisão americano e do búfalo africano, que são
animais muito selvagens e agressivos. O búfalo-africano (Syncerus caffer) é um
mamífero bovino nativo de África, um herbívoro de grandes dimensões, que atinge
1,7 metros
de altura, 3 metros
de comprimento e 900 kg
de peso.
O
búfalo é um animal que vive em grupos, podendo também ocorrer várias manadas
isoladas com milhares deles. O grupo de búfalos tem claramente demarcadas as
áreas onde habitam e que raramente são sobrepostas. Eles são procriadores
sazonais e escolhem as companheiras que estão receptivas ou em condições de
procriação, que parem predominantemente nos meses úmidos do verão. A maioria
dos novilhos nascem pesando cerca de 40Kg., após um período de gestação de 340
dias, aptos a ficar de pé poucas horas depois de nascido.
Os
animais solteiros podem se afastar da manada principal, onde os adultos
preservam a hierarquia de dominância, cuja complexidade é influenciada pelo
tamanho dela. As búfalas também estabelecem uma “ordem de importância” entre
elas mesmas. Os machos procuram por água no início da manhã e no final da tarde
e por sombra durante o calor do dia. Geralmente se alimentam a noite.
Os
bubalinos são robustos e parecem gado bovino, possuindo a segunte
configuração: altura do dorso chega a
1,4m; 70cm de cauda; peso 550Kg (búfala) e 700Kg (búfalo), além do comprimento
médio do chifre de 100cm, ao redor da curvatura até a ponta. Os adultos possuem
coloração marrom escuro para preto, mas as búfalas geralmente não são tão
escuras e os filhotes são marrom-avermelhados. Eles têm pernas fortes e curtas,
com grandes patas, onde as patas dianteiras são maiores que as patas traseiras.
Os chifres são fortes e maciços e a base central do chifre é particularmente
bem desenvolvida nos búfalos machos. As orelhas são grandes e ficam penduradas
abaixo dos chifres. O rabo parece com o de uma vaca com a ponta marrom ou
preta.
A
Associação Brasileira de Criadores de Búfalos, contudo, reconhecem apenas
quatros raças de búfalos no Brasil: Mediterrâneo, Murrah, Jafarabadi e Carabao.
Os animais da raça Mediterrâneo têm origem italiana e possuem características de
gado de corte e leite, com porte médio e medianamente compactos. A raça Murrah
veio da Índia, apresentando conformação média e compacta, cabeças leves e
chifres curtos, espiralados enrodilhando-se em anéis na altura do crânio. O Jafarabadi
é indiano também, sua configuração é menos compacta e de maior porte, com
chifres longos e de espessura fina, com uma curvatura longa e harmônica.
A raça
Carabao, por sua vez, tem origem no norte das Filipinas, é a única adaptada às
regiões pantanosas, com maior rebanho concentrado na ilha de Marajó, no Pará; ela
apresenta pelagem mais clara, cabeça triangular, chifres grandes e pontiagudos,
voltados para cima, porte médio e capacidade maior para produção de carne e
leite, além de serem bastante utilizados como força motriz.
Segundo
dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o búfalo é
muito menos seletivo que bovino, razão pelo qual acaba ajudando a limpeza das
pastagens já que muitas plantas são por ele ingerida e aproveitadas como
alimento, o que representa economia para o custo de roçagem ao longo do tempo.
Esse animal possui o “espírito de família” muito desenvolvido, o que ajuda o
manejo sistemático, não o deixando abandonado, sem contato com as pessoas para
que fique sempre dócil. As búfalas são longevas e podem parir e produzir leite
até com 24 anos de idade, apesar da recomendação de 15 anos de idade, para ser
substituída. Sua vida útil e produtividade a torna bem mais vantajosa do que no
caso de bovinos. Entre dois e dois anos e meio de idade, o bubalino pesa cerca
de 350 kg ,
em pastagem natural, peso este alcançado pelos bovinos somente com idade de
três e meio a quatro anos. Em pastagem cultivada os búfalos atingem em media
cerca de 550 kg
em dois anos, sendo comum as búfalas parirem entre dois anos e três anos de
idade.
Na
Amazônia brasileira, a bubalinocultura é basicamente desenvolvida em sistemas
de criação a pasto, utilizando quatro distintos ecossistemas de pastagens:
nativas de áreas inundáveis do estuário, distribuídas na ilha de Marajó, onde
se concentra a maior parte do rebanho; nativas de áreas inundáveis, localizadas
nas microrregiões do Baixo e Médio Amazonas; nativas de terra firme; e cultivadas de terra firme, em áreas
originalmente de floresta. Os búfalos, também, são criados em sistemas
integrando as pastagens nativas com as cultivadas, inclusive com sistemas
silvipastoris e pastagem rotacionada intensiva.
História
– O búfalo doméstico (Bubalus bubalis) teve origem na Ásia, sendo levado para
África, introduzido na Europa e mais recentemente no continente americano. A
história do búfalo no Brasil teve sua origem aproximadamente em 1895 na Ilha de
Marajó, no Pará, com animais das raças do Sudeste Asiático e da Itália (Carabao
e Mediterrâneo). Na mesma época, a história registra a existência de
búfalos de origem desconhecida no Rio de Janeiro em Jacarepaguá, no Engenho da
Serra. Atualmente, a Amazônia tem a primazia de abrigar as três subespécies de
búfalos do Brasil (bubalis, kerebau e fulvus), que agrupam animais das raças
Mediterrâneo, Murrah, Jafarabadi e Carabao, além do tipo Baio.
O
búfalo se adaptou e se desenvolveu extraordinariamente bem nas pastagens
brasileiras A diversificação de clima e solo encontrada na grande extensão de
nosso território não foi obstáculo capaz de deter a sua caminhada. As raças
indianas (Jafarabadi e Murrah) foram introduzidas na região de Uberaba-SP no
Vale do Rio Grande-SP por iniciativa dos importadores de Gado Zebu. Por isso,
pode-se dizer que o búfalo tem a cara do Pará. Somente daí em diante foi
iniciado outras importações de lotes de búfalos para diversas outras regiões
brasileiras.
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