segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013


Búfalo, um animal rústico de extrema versatilidade

A qualidade do leite e da carne bubalina revela uma composição química superior, comparável ao da bovina, além de possuir outras aptidões como precocidade, longevidade produtiva e produtividade

O búfalo foi considerado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação (FAO) como o animal doméstico mais dócil do planeta, o que facilita sua criação, manejo e melhor adaptação às mais variadas condições ambientais. Apesar disto, há histórias da existência de búfalos selvagens na ilha de Marajó, capazes de fazer correr o mais destemido vaqueiro e a abrigar-se nas árvores dos campos marajoaras. São animais não domesticados, que vivem livres em pequenas manadas, abandonados a própria sorte, até serem caçados a bala, a única forma de domá-los.

Esse animal rústico de extrema versatilidade pode produzir carne, leite, trabalho e se reproduzir nas mais variadas condições climáticas do mundo, no frio da Europa Oriental, na insolação dos desertos africanos, na umidade da Amazônia, na seca dos sertões nordestinos e até nas escarpas montanhosas. Ele possui ainda elevada produtividade em áreas de terra firme e até em criatórios com água somente para beber, desde que disponham de sombras para regulação térmica, apesar de ser um animal originário de áreas alagadas.

Além de possuir tripla aptidão (carne, leite e trabalho), o búfalo também se caracteriza por suas precocidade, longevidade produtiva e produtividade. Pesquisas comparativas  entre a carne bubalina e bovina revelam vantagens da primeira, por conter pouca gordura intramuscular, que possui 40% menos colesterol, 12 vezes menos gordura, 55% menos calorias, 11% mais proteína e 10% mais minerais, sendo mais favorável para a saúde humana.

Outra vantagem da carne de búfalo, em alguns casos, é a superioridade da composição nutricional em relação a outras carnes convencionais – vermelha (bovina) e branca (frango), sendo importante fonte de proteína animal de excepcional qualidade, inclusive em seus derivados, como lingüiça, carne de sol, babyburguer, mortadela com ervas finas, etc.

Por outro lado, o leite da búfala revela uma composição química superior, comparável ao da vaca bovina, em 43,81% nos sólidos totais, 43,60% em gordura, 17,10% em extrato seco desengordurado, 41,54% de proteína (caseína), 2,4% de lactose, 15,30% de resíduo mineral fixo, 42,10% de cálcio e 42,86% de fósforo. Os derivados produzidos são a mozarela, queijo tipo frescal, doce de leite, requeijão, provolone, ricota, iogurte, queijo marajoara, dentre tantos outros subprodutos.

A qualidade do gado bubalino é também a sua capacidade de trabalho na Amazônia, cujo elevado potencial ainda não atingiu a adoção e a importância social plenas, devido a falta de tradição, a reduzida divulgação e por ser considerado um sistema antiquado. A utilização do búfalo como animal de tração, com inovações tecnológicas apropriadas aos pequenos agricultores é uma excelente alternativa para elevar a produtividade sustentável das comunidades e podem ser aproveitados para diferentes atividades agrícolas e de transporte no meio rural, onde o animal pode ser usado para o preparo do solo, em aragem e gradagem, servindo ainda para puxar carroças em diversas regiões do Brasil.

Na ilha de Marajó, por exemplo, o búfalo é usado como montaria, inclusive pela polícia local, além de ser tração de pequenas embarcações, transporte de madeira, etc. Na região do Muju, também no Pará, o búfalo é utilizado para tracionar carretas, no transporte de frutos de coco para a usina industrial.

Os búfalos são animais da família dos bovídeos, classificados na sub-família Bovidae, gênero Bubalis, divididos em três subespécies, Bubalus bubalis, variedade bubalis, Bubalus bubalis, variedade kerebao e Bubalus bubalis, variedade fulvus. No Brasil, na variedade bubalis, são criadas as raças Jafarabadi, Mediterrâneo e Murrah. Esses animais estão dispersos na Índia, Paquistão, China, Turquia e nos continentes europeu e americano.

Na variedade kerebao, a raça Carabao é criada em nosso país e está distribuída na Malásia, Indonésia, Filipinas, Tailândia. É, também, denominada de Rosilha na ilha de Marajó, devido à sua pelagem, e é conhecida como búfalo de pântano (swamp buffalo).

A variedade fulvus é nativa do nordeste da Índia, possui coloração parda ou avermelhada e se assemelha com o tipo Baio encontrado em algumas regiões do Brasil. O Bubalus bubalis  também é conhecido como búfalo-do-rio, e o Bubalus bubalis var. kerebau,  chamado búfalo-do-pântano. As espécies bubalinas são diferentes do bisão americano e do búfalo africano, que são animais muito selvagens e agressivos. O búfalo-africano (Syncerus caffer) é um mamífero bovino nativo de África, um herbívoro de grandes dimensões, que atinge 1,7 metros de altura, 3 metros de comprimento e 900 kg de peso.

O búfalo é um animal que vive em grupos, podendo também ocorrer várias manadas isoladas com milhares deles. O grupo de búfalos tem claramente demarcadas as áreas onde habitam e que raramente são sobrepostas. Eles são procriadores sazonais e escolhem as companheiras que estão receptivas ou em condições de procriação, que parem predominantemente nos meses úmidos do verão. A maioria dos novilhos nascem pesando cerca de 40Kg., após um período de gestação de 340 dias, aptos a ficar de pé poucas horas depois de nascido.

Os animais solteiros podem se afastar da manada principal, onde os adultos preservam a hierarquia de dominância, cuja complexidade é influenciada pelo tamanho dela. As búfalas também estabelecem uma “ordem de importância” entre elas mesmas. Os machos procuram por água no início da manhã e no final da tarde e por sombra durante o calor do dia. Geralmente se alimentam a noite.

Os bubalinos são robustos e parecem gado bovino, possuindo a segunte configuração:  altura do dorso chega a 1,4m; 70cm de cauda; peso 550Kg (búfala) e 700Kg (búfalo), além do comprimento médio do chifre de 100cm, ao redor da curvatura até a ponta. Os adultos possuem coloração marrom escuro para preto, mas as búfalas geralmente não são tão escuras e os filhotes são marrom-avermelhados. Eles têm pernas fortes e curtas, com grandes patas, onde as patas dianteiras são maiores que as patas traseiras. Os chifres são fortes e maciços e a base central do chifre é particularmente bem desenvolvida nos búfalos machos. As orelhas são grandes e ficam penduradas abaixo dos chifres. O rabo parece com o de uma vaca com a ponta marrom ou preta.

A Associação Brasileira de Criadores de Búfalos, contudo, reconhecem apenas quatros raças de búfalos no Brasil: Mediterrâneo, Murrah, Jafarabadi e Carabao. Os animais da raça Mediterrâneo têm origem italiana e possuem características de gado de corte e leite, com porte médio e medianamente compactos. A raça Murrah veio da Índia, apresentando conformação média e compacta, cabeças leves e chifres curtos, espiralados enrodilhando-se em anéis na altura do crânio. O Jafarabadi é indiano também, sua configuração é menos compacta e de maior porte, com chifres longos e de espessura fina, com uma curvatura longa e harmônica.

A raça Carabao, por sua vez, tem origem no norte das Filipinas, é a única adaptada às regiões pantanosas, com maior rebanho concentrado na ilha de Marajó, no Pará; ela apresenta pelagem mais clara, cabeça triangular, chifres grandes e pontiagudos, voltados para cima, porte médio e capacidade maior para produção de carne e leite, além de serem bastante utilizados como força motriz.

Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o búfalo é muito menos seletivo que bovino, razão pelo qual acaba ajudando a limpeza das pastagens já que muitas plantas são por ele ingerida e aproveitadas como alimento, o que representa economia para o custo de roçagem ao longo do tempo. Esse animal possui o “espírito de família” muito desenvolvido, o que ajuda o manejo sistemático, não o deixando abandonado, sem contato com as pessoas para que fique sempre dócil. As búfalas são longevas e podem parir e produzir leite até com 24 anos de idade, apesar da recomendação de 15 anos de idade, para ser substituída. Sua vida útil e produtividade a torna bem mais vantajosa do que no caso de bovinos. Entre dois e dois anos e meio de idade, o bubalino pesa cerca de 350 kg, em pastagem natural, peso este alcançado pelos bovinos somente com idade de três e meio a quatro anos. Em pastagem cultivada os búfalos atingem em media cerca de 550 kg em dois anos, sendo comum as búfalas parirem entre dois anos e três anos de idade. 

Na Amazônia brasileira, a bubalinocultura é basicamente desenvolvida em sistemas de criação a pasto, utilizando quatro distintos ecossistemas de pastagens: nativas de áreas inundáveis do estuário, distribuídas na ilha de Marajó, onde se concentra a maior parte do rebanho; nativas de áreas inundáveis, localizadas nas microrregiões do Baixo e Médio Amazonas; nativas de terra firme; e  cultivadas de terra firme, em áreas originalmente de floresta. Os búfalos, também, são criados em sistemas integrando as pastagens nativas com as cultivadas, inclusive com sistemas silvipastoris e pastagem rotacionada intensiva.

História – O búfalo doméstico (Bubalus bubalis) teve origem na Ásia, sendo levado para África, introduzido na Europa e mais recentemente no continente americano. A história do búfalo no Brasil teve sua origem aproximadamente em 1895 na Ilha de Marajó, no Pará, com animais das raças do Sudeste Asiático e da Itália (Carabao e Mediterrâneo).  Na mesma época, a história registra a existência de búfalos de origem desconhecida no Rio de Janeiro em Jacarepaguá, no Engenho da Serra. Atualmente, a Amazônia tem a primazia de abrigar as três subespécies de búfalos do Brasil (bubalis, kerebau e fulvus), que agrupam animais das raças Mediterrâneo, Murrah, Jafarabadi e Carabao, além do tipo Baio.

O búfalo se adaptou e se desenvolveu extraordinariamente bem nas pastagens brasileiras A diversificação de clima e solo encontrada na grande extensão de nosso território não foi obstáculo capaz de deter a sua caminhada. As raças indianas (Jafarabadi e Murrah) foram introduzidas na região de Uberaba-SP no Vale do Rio Grande-SP por iniciativa dos importadores de Gado Zebu. Por isso, pode-se dizer que o búfalo tem a cara do Pará. Somente daí em diante foi iniciado outras importações de lotes de búfalos para diversas outras regiões brasileiras.

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