Sucuri, a rainha das serpentes
Confundida com a lendária Anaconda ou,
ainda, com a Cobra-Grande, Boiúna e outras entidades ofídicas da mitologia amazônica,
esta cobra seria capaz de engolir uma pessoa inteira, pois exemplares com mais
de seis metros de comprimento teriam condições de devorar presas do
tamanho de um ser humano
Outra história dá conta que, no
município de Santana, a 32 quilômetros de Macapá, capital do Amapá, existe uma
víbora enorme chamada Cobra Sofia, guardiã do porto local. Dizem que ela mora
no rio que passa na frente da cidade e acredita-se que um dia ela irá acordar
do seu sono e nesse dia a cidade irá para o fundo do rio. A crença cabocla diz
que muitos dos igarapés e furos amazônicos são formados pela passagem da Cobra-Grande
que abre enormes sulcos nas restingas, igapós e até na terra firme. Há quem
fale que as sucuris também são responsáveis pelas terras caídas, erosão provocada
pela correnteza do rio Amazonas nas ribanceiras.
O misticismo provocado pelas
serpentes ultrapassa fronteiras, sendo comum encontrar lendas, mitos, rituais e
crenças que envolvem diversas espécies de ofídios. Nos Rios Solimões e Negro, a
Cobra-Grande nasce do cruzamento de uma mulher com uma assombração (visagem) ou
de um ovo de mutum; no Acre, a entidade mítica transforma-se numa linda moça,
que aparece nas festas de São João para seduzir os rapazes desavisados. O lendário
também apresenta a Cobra-Grande como uma benfeitora à navegação dos rios
amazônicos, cujos olhos tornam-se grandes faróis para orientar os embarcadiços
nas noites escuras e durante as tempestades. A versão contrária coloca a Cobra-Grande
como entidade do mal, tal a sua voracidade e multiplicidade de transformação.
Na língua tupi-guarani, sucuri
quer dizer “a que morde rápido”. Esta cobra costuma ficar na beira dos grandes
rios, esperando que suas presas cheguem para beber água e assim consiga
capturá-las. A cobra agarra a vítima pela cabeça e em seguida busca um ponto de
apoio (raízes, galhos e troncos) em terra ou até mesmo dentro da água, onde
enrola sua cauda para poder estrangular a vítima com laçadas de seu corpo. Não
costuma quebrar os ossos das vítimas, como muitos pensam, para facilitar a
ingestão, e sim buscam a constrição, apertando até matar por asfixia. Quando
molestada, a sucuri se enrodilha, ficando com aparência de um cone, e coloca
sua cabeça entre as grossas voltas de seu corpo.
A sucuri é a segunda serpente de maior comprimento no mundo,
depois de sua prima que vive na África, Ásia e Austrália, a píton (Piton reticulatus). A sucuri não possui
glândulas produtoras de veneno, mas em sua boca encontram-se fileiras de
pequenos dentes pontiagudos que contribuem para não deixar que suas presas
fujam. Apresenta colorações e marcas características que variam de indivíduo
para indivíduo em áreas geográficas afastadas e de acordo com sua idade.
Normalmente sua cor é parda-azeitonada, com duas séries de grandes ocelos
negros (manchas arredondadas ou ovaladas), ornadas de tom levemente claro,
geralmente tocando-se uma à outra ou também de forma intercalada.
Possui uma cabeça grande que
difere de seu pescoço. Esta é revestida na parte posterior (de trás) por
pequenos escudos irregulares e numerosas escamas pequenas a completam; seus
olhos são pequenos e com pupilas verticais (característica de serpentes
peçonhentas, juntamente com suas numerosas escamas). Existe muita discussão
para se saber com exatidão o maior comprimento já atingido por uma sucuri. Os
comprimentos normais, já registrados por muitos pesquisadores, variam entre seis
a 11 metros, pesando até 400 quilos. Seu tempo de vida é muito longo. Há casos
de exemplares que viveram em cativeiro durante 30 anos.
Na época reprodutiva, a fêmea
exala um odor que atrai os machos para seu encontro. O acasalamento é feito
após um longo período de jejum. A sucuri é uma espécie ovovivípara, isto é, os
filhotes eclodem de seus ovos no interior da barriga de sua mãe e já nascem prontos
para desvendar a floresta à procura de alimento. Sua ninhada é geralmente muito
grande, variando de dez a 70 filhotes a cada gestação, que dura de 225 a 270
dias.
A sucuriju ou sucuri é encontrada
praticamente em todo o Brasil, com distribuição em outros países, como
Venezuela, Paraguai, Argentina, Bolívia, Colômbia, Peru, Equador e Suriname.
Habita as florestas e áreas abertas, vivendo nos grandes rios, lagos, igarapés,
várzeas e alagados (igapós).
A “gigante amiga” possui hábitos
estritamente aquáticos, mas também procura a terra para encontrar alimento ou
para dar à luz aos filhotes. Costuma ter maior atividade durante a noite,
quando sai à procura de suas presas, preferindo animais de porte pequeno.
Compõem seu cardápio com peixes, anfíbios, aves paludícolas (que vivem nos
charcos e lagoas), lagartos, outras serpentes (até seus próprios filhos), cágados,
jacarés, pacas, cutias, capivaras, porco do mato, filhotes de anta, veados,
bezerros, macacos, felinos (há casos de lutas com onças e suçuaranas), etc.
Pode ficar em jejum durante meses. Porém quando se alimenta, passa dias,
semanas e até alguns meses imóveis, digerindo o que capturou. Existiu um exemplar mantido em cativeiro no Museu Emílio
Goeldi (Pará), que permaneceu por 19 meses sem ter emagrecido.
A sucuri não se alimenta de
bovinos adultos, como muitos acreditam, pois ela não suportaria engolir um
animal de grande porte, mas como outras serpentes, é capaz de desarticular os
ossos de sua mandíbula para que possa engolir presas maiores que a abertura de
sua boca. Para facilitar a ingestão do alimento, ela produz muita salivação que
umedece todo o corpo da presa, facilitando sua ingestão. A caça, depois de
envolvida pela enorme força de constrição da sucuri, fica com seu corpo mais
longo, fino e deformado.
A cobra seria capaz de engolir
uma pessoa, pois exemplares com mais de seis metros de comprimento teriam boas
condições de engolir presas do tamanho de um ser humano. Os casos são
raríssimos, além do que as pessoas não fazem parte de seu cardápio preferencial.
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