segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013


Alegria e festa marcam a cultura amazonense

Os festivais folclóricos, as festas religiosas e os eventos populares diversos registram o espírito alegre e festivo do povo amazonense. Nesse contexto, uma linha tênue separa a realidade da fantasia, a história do folclore no Estado do Amazonas, envolvendo lendas, costumes e tradições que, por sua vez, misturam eventos e personagens imaginários. Incorporando tudo isto à cultura regional, os valores objetivos e subjetivos das populações locais vão além da imaginação e materializam seus heróis e vilões em um conjunto de tradições folclóricas expressas artisticamente em festivais, tais como o de Parintins, Maués, Manacapuru e tantos outros que hoje marcam o calendário cultural da Amazônia, tendo como seu maior expoente o Festival Folclórico da Ilha Tupinabarana.

Sem dúvida, a influência das culturas portuguesa e nordestina foi marcante no folclore amazonense, que possui nítidas características indígenas. Tendo a natureza, a antropologia cultural e o poética nativa como expressões básicas, as manifestações populares acontecem na capital do Estado e em várias cidades do interior, cujo ápice acontece em Manaus e Parintins. É na capital que há mais de meio século ocorre anualmente um grande festa dos bumbas, dentre eles os mais recentes Corre-Campo, Brilhante, Gitano, Tira-Teima e Tira Prosa. Nessas festas juninas há também as quadrilhas, cirandas e danças nordestinas apresentadas em espetáculos no Centro Cultural do Amazonas, um local com toda a infra-estrutura para abrigar milhares de pessoas.

Em todo o mês de junho as festividades envolvem desde escolas, bairros e localidades no interior. Em Parintins, na última semana do mês, 35 mil pessoas dividem a torcida pelos dois grandes bumbás, o Garantido e o Caprichoso. Este é o mais disputado festival folclórico do Amazonas pela riqueza das apresentações que contam em detalhes as lendas e a mitologia indígena daquela região do Baixo Amazonas, bem como apresenta a vida cabocla na região. Mas nem só o Boi é festejado pelo povo amazonenese, cuja riqueza etnográfica é bastante diversificada e que em muito ainda precisa ser pesquisada para se compreender os significados dessas manifestações, por parte dos atores sociais que delas participam.

Torna-se necessário também documentar e traduzir a importância de cada evento realizado pelo povo do Amazonas, seja ele cultural ou religios, como o Festival Folclórico de Parintins; o Festival da Canção de Itacoatiara (Fecani); as festas do Cupuaçú, Açaí, Melancia, Castanha, Banana, Laranja, Mandioca de vários municípios; o Festival dos Peixes Ornamentais de Barcelos (Acará-disco e Cardinal); Festival do Guaraná em Maués; Festival do Leite em Autazes; o festejo de Santo Antônio em Borba; Festival da Ciranda em Manacapuru; Festa do Peixe-Boi em Novo Airão; Festa do Tucunaré em Nhamundá; a Festa do Sol em Lábrea; Festival de Músicas de Novo Aripuanã (Femuna); Rituais e danças indígenas: Festa da Moça Nova (Tikuna), Tucandeira (Sateré-Mawé), Kinirii (Apurinã), Maryba (Waimiri Atroari), Cariço e Dabucuri (Ticuno, Dessano, Tariano, Baniwa, entre tantas outras.

As origens do Boi de Parintins são imprecisas, mas há quem garanta que ele nasceu no fim do século XIX, trazido pelos nordestinos, ainda como um folguedo junino, na forma do tradicional Bumba-meu-boi, do Maranhão. Mais tarde, em 1913, Lindolfo Monteverde fundou o Boi Garantido, às vésperas do dia de Santo Antônio, como “Boi de Promessa”. Anos depois, ou em época aproximada, surgiu o Boi Caprichoso, criando a rivalidade que hoje dá magnitude ao Festival de Parintins. O que no começo era apenas uma brincadeira virou paixão junina e até brigas de rua, dividindo a cidade entre as cores azul e vermelha. Da Juventude Católica surgiu os festivais na década de 1960, quando a disputa dos bumbás passou para o campo da criatividade dos artistas e artesãos de Parintins. O canto virou toada, o boi de pano e tala ganhou movimento e o folguedo tradicional deu lugar a belas fantasias e grandes alegorias inspiradas na cultura regional. Enfim, Parintins chamou a atenção do governo do Amazonas, que construiu o Bumbódromo em 1988, um gigantesco anfiteatro em meio à Floresta Amazônica para apresentações folclóricas dos bois rivais, que passou a inspirar a criação de outros festivais, consagrando culturas, povos, fauna, flora e municípios da Amazônia.

O Boi-bumbá, aliás, é, sem dúvida o folguedo de maior significação estética, cultural e social do Brasil, brincado em quase todo o País, variando na forma, ritmo, toada, coreografia e nome em cada região. Apesar de instrumentos musicais, figurino e auto diferenciados, há um traço comum no folclore, no mínimo curioso, ele mais se desenvolveu em três ilhas brasileiras: Florianópolis (Boi de Mamão), São Luís (Bumba-meu-boi) e Parintins (Boi-bumbá), onde ganhou mais notoriedade no Brasil. Se o tradicional Bumba-meu-boi maranhense se tornou a manifestação folclórica brasileira mais difundida, Parintins deu-lhe grandiosidade e beleza, recriando o folguedo original e nele incorporando elementos culturais da Amazônia, sem desrespeitar suas raízes tradicionais. Este fato dinâmico é reconhecido internacionalmente pela repercussão dos festivais ali realizados e pelos milhares de visitantes que recebe todos os anos. Até mesmo o Carnaval do Rio de Janeiro se curvou diante da pujança e criatividade cênica do Boi de Parintins, sendo várias vezes enredo das escolas de samba na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, cativando públicos, artistas e formadores de opinião do mundo inteiro.

O Festival de Parintins representa os sons das toadas na floresta na cadência dos tambores tribais para dar passagem a cenários regionais gigantescos, onde a trama cabocla desfila para apresentar o seu grito de defesa da Amazônia. Figuras típicas como Pai Francisco, Mãe Catirina, Tuchauas, Cunhã-Poranga, Pajé e diversas tribos indígenas integram a ação dramática, cantando e dançando ao ritmo alucinante e contagiante das toadas de boi, espetáculo que se transforma numa verdadeira batalha folclórica, onde os simpatizantes dos Bumbás Garantido (Vermelho e Branco) e Caprichoso (Azul e Branco) explodem de emoção. Na arena do Bumbódromo, durante quase seis horas, a cada noite, eles encenam um verdadeiro ritual festivo, que encanta e contamina de entusiasmo.

O cenário do festival de Parintins fica a 420 quilômetros de Manaus, capital do Amazonas. Localizado à margem direita do Rio Amazonas, a cidade de Parintins, possui cerca de 100 mil habitantes, que, durante o ano inteiro respiram folclore e cultura. Para chegar à Parintins, o acesso pode ser aéreo ou fluvial, cujo o tempo de viagem de viagem varia de acordo com o modal: avião é de aproximadamente 1 hora, enquanto pelo rio o percurso é mais demorado e pode chegar a 18 horas de viagem, saindo do porto de Manaus.

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