Alegria
e festa marcam a cultura amazonense
Os
festivais folclóricos, as festas religiosas e os eventos populares diversos
registram o espírito alegre e festivo do povo amazonense. Nesse contexto, uma
linha tênue separa a realidade da fantasia, a história do folclore no Estado do
Amazonas, envolvendo lendas, costumes e tradições que, por sua vez, misturam
eventos e personagens imaginários. Incorporando tudo isto à cultura regional,
os valores objetivos e subjetivos das populações locais vão além da imaginação
e materializam seus heróis e vilões em um conjunto de tradições folclóricas
expressas artisticamente em festivais, tais como o de Parintins, Maués, Manacapuru
e tantos outros que hoje marcam o calendário cultural da Amazônia, tendo como
seu maior expoente o Festival Folclórico da Ilha Tupinabarana.
Sem
dúvida, a influência das culturas portuguesa e nordestina foi marcante no
folclore amazonense, que possui nítidas características indígenas. Tendo a
natureza, a antropologia cultural e o poética nativa como expressões básicas,
as manifestações populares acontecem na capital do Estado e em várias cidades
do interior, cujo ápice acontece em Manaus e Parintins. É na capital que há
mais de meio século ocorre anualmente um grande festa dos bumbas, dentre eles
os mais recentes Corre-Campo, Brilhante, Gitano, Tira-Teima e Tira Prosa. Nessas
festas juninas há também as quadrilhas, cirandas e danças nordestinas
apresentadas em espetáculos no Centro Cultural do Amazonas, um local com toda a
infra-estrutura para abrigar milhares de pessoas.
Em
todo o mês de junho as festividades envolvem desde escolas, bairros e
localidades no interior. Em Parintins, na última semana do mês, 35 mil pessoas
dividem a torcida pelos dois grandes bumbás, o Garantido e o Caprichoso. Este é
o mais disputado festival folclórico do Amazonas pela riqueza das apresentações
que contam em detalhes as lendas e a mitologia indígena daquela região do Baixo
Amazonas, bem como apresenta a vida cabocla na região. Mas nem só o Boi é
festejado pelo povo amazonenese, cuja riqueza etnográfica é bastante diversificada
e que em muito ainda precisa ser pesquisada para se compreender os significados
dessas manifestações, por parte dos atores sociais que delas participam.
Torna-se
necessário também documentar e traduzir a importância de cada evento realizado
pelo povo do Amazonas, seja ele cultural ou religios, como o Festival
Folclórico de Parintins; o Festival da Canção de Itacoatiara (Fecani); as festas
do Cupuaçú, Açaí, Melancia, Castanha, Banana, Laranja, Mandioca de vários
municípios; o Festival dos Peixes Ornamentais de Barcelos (Acará-disco e Cardinal);
Festival do Guaraná em Maués; Festival do Leite em Autazes; o festejo de Santo
Antônio em Borba; Festival da Ciranda em Manacapuru; Festa do Peixe-Boi em Novo
Airão; Festa do Tucunaré em Nhamundá; a Festa do Sol em Lábrea; Festival de
Músicas de Novo Aripuanã (Femuna); Rituais e danças indígenas: Festa da Moça
Nova (Tikuna), Tucandeira (Sateré-Mawé), Kinirii (Apurinã), Maryba (Waimiri
Atroari), Cariço e Dabucuri (Ticuno, Dessano, Tariano, Baniwa, entre tantas
outras.
As
origens do Boi de Parintins são imprecisas, mas há quem garanta que ele nasceu
no fim do século XIX, trazido pelos nordestinos, ainda como um folguedo junino,
na forma do tradicional Bumba-meu-boi, do Maranhão. Mais tarde, em 1913,
Lindolfo Monteverde fundou o Boi Garantido, às vésperas do dia de Santo
Antônio, como “Boi de Promessa”. Anos depois, ou em época aproximada, surgiu o
Boi Caprichoso, criando a rivalidade que hoje dá magnitude ao Festival de
Parintins. O que no começo era apenas uma brincadeira virou paixão junina e até
brigas de rua, dividindo a cidade entre as cores azul e vermelha. Da Juventude
Católica surgiu os festivais na década de 1960, quando a disputa dos bumbás
passou para o campo da criatividade dos artistas e artesãos de Parintins. O
canto virou toada, o boi de pano e tala ganhou movimento e o folguedo tradicional
deu lugar a belas fantasias e grandes alegorias inspiradas na cultura regional.
Enfim, Parintins chamou a atenção do governo do Amazonas, que construiu o
Bumbódromo em 1988, um gigantesco anfiteatro em meio à Floresta Amazônica para
apresentações folclóricas dos bois rivais, que passou a inspirar a criação de
outros festivais, consagrando culturas, povos, fauna, flora e municípios da
Amazônia.
O
Boi-bumbá, aliás, é, sem dúvida o folguedo de maior significação estética,
cultural e social do Brasil, brincado em quase todo o País, variando na forma,
ritmo, toada, coreografia e nome em cada região. Apesar de instrumentos
musicais, figurino e auto diferenciados, há um traço comum no folclore, no
mínimo curioso, ele mais se desenvolveu em três ilhas brasileiras:
Florianópolis (Boi de Mamão), São Luís (Bumba-meu-boi) e Parintins (Boi-bumbá),
onde ganhou mais notoriedade no Brasil. Se o tradicional Bumba-meu-boi
maranhense se tornou a manifestação folclórica brasileira mais difundida,
Parintins deu-lhe grandiosidade e beleza, recriando o folguedo original e nele
incorporando elementos culturais da Amazônia, sem desrespeitar suas raízes
tradicionais. Este fato dinâmico é reconhecido internacionalmente pela
repercussão dos festivais ali realizados e pelos milhares de visitantes que
recebe todos os anos. Até mesmo o Carnaval do Rio de Janeiro se curvou diante
da pujança e criatividade cênica do Boi de Parintins, sendo várias vezes enredo
das escolas de samba na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, cativando públicos,
artistas e formadores de opinião do mundo inteiro.
O
Festival de Parintins representa os sons das toadas na floresta na cadência dos
tambores tribais para dar passagem a cenários regionais gigantescos, onde a
trama cabocla desfila para apresentar o seu grito de defesa da Amazônia. Figuras
típicas como Pai Francisco, Mãe Catirina, Tuchauas, Cunhã-Poranga, Pajé e
diversas tribos indígenas integram a ação dramática, cantando e dançando ao
ritmo alucinante e contagiante das toadas de boi, espetáculo que se transforma
numa verdadeira batalha folclórica, onde os simpatizantes dos Bumbás Garantido
(Vermelho e Branco) e Caprichoso (Azul e Branco) explodem de emoção. Na arena
do Bumbódromo, durante quase seis horas, a cada noite, eles encenam um verdadeiro
ritual festivo, que encanta e contamina de entusiasmo.
O
cenário do festival de Parintins fica a 420 quilômetros de Manaus, capital do
Amazonas. Localizado à margem direita do Rio Amazonas, a cidade de Parintins,
possui cerca de 100 mil habitantes, que, durante o ano inteiro respiram
folclore e cultura. Para chegar à Parintins, o acesso pode ser aéreo ou
fluvial, cujo o tempo de viagem de viagem varia de acordo com o modal: avião é
de aproximadamente 1 hora, enquanto pelo rio o percurso é mais demorado e pode
chegar a 18 horas de viagem, saindo do porto de Manaus.
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